No final da década de 90 surgiu, através da Record, no Programa Eliana & Alegria, o anime que viria a ser a nova febre no Brasil: Pokémon. Eu tinha 11 anos.
Chamada da estreia de Pokémon na TV brasileira
E em pouco tempo Pokémon tomou conta de tudo. Eu comecei a assistir o anime justamente no Programa Eliana & Alegria, já que não tinha acesso à TV Paga na época, então, assistir no Cartoon Network não passava de um sonho.
Eu fiquei encantado desde a primeira vez que assisti Pokémon! E todos os dias, sempre que possível eu assistia. Como o programa era exibido na parte da manhã, muitas vezes eu cheguei atrasado no colégio para conseguir assistir ao episódio de Pokémon. Não tinha como deixar de tentar assistir o capítulo do dia, até o horário de ir para o ponto de ônibus.
No colégio a febre Pokémon avançou muito rápido. Começaram a aparecer amigos de sala com o álbum de Pokémon e um surgiu com algo que mudaria a minha vida: um Game Boy clássico e um Pokémon Blue. Eu fiquei vidrado naquele Game Boy tijolão com aquela tela esverdeada e com o azul do jogo.
Me lembro dessas cenas como se fossem hoje.
Depois de uns dias outro aluno do colégio apareceu com um outro GB clássico, mas dessa vez com Pokémon Red. E eu ali, perdido no meio daquela enxurrada de Pokémon. Até que fui correndo para a banca de jornal atrás do álbum, tive que ir em várias, já que na maioria estavam esgotadas. Após conseguir, o ciclo de conseguir as figurinhas se iniciava e repetia, todo e qualquer centavo que eu conseguia ia parar nas bancas de jornal. Na época eu consegui juntar os 25 reais (acho que era esse o valor) para poder comprar um pacotão fechado de figurinhas.
Enquanto estava naquela imersão de colecionar figurinhas para completar o álbum, fui procurar para ver como conseguiria ter um Game Boy e um jogo de Pokémon. E, a decepção… Nossa, eram caros demais! Inacessíveis para a minha realidade.
Numa dessas caçadas procurando alguma banca que tivesse as figurinhas, caminhando pelo centro da minha cidade, ao passar por uma banca, numa tarde ensolarada eu vi uma revista, que estava sendo segurada com um pregador, balançando ao vento e brilhando. Aquele reflexo me chamou a atenção e eu fui ver mais de perto, era a Revista Nintendo World Especial nº 2, com um detonado completo de Pokémon Red e Blue.
Como não pude folhear a revista, levei assim mesmo, com o pouco que vi, achei que fosse uma como as demais, com muito conteúdo sobre Pokémon. Mas, essa era mais do que eu poderia imaginar. Comprei a revista e fui correndo pra casa para ler. Minha mente explodiu e eu queria passar o máximo de tempo com aquela revista. Dormi com ela na minha cama e não queria mais me desgrudar, levava ela para todo lugar que eu ia. Eu lia e relia tanto, me imaginando naquele mundo de aventuras!
E a vontade de ter um Game Boy para jogar Pokémon só aumentava!
Aquele final de 1999 guardava um fato que eu jamais imaginei: Meu pai, sempre praticou Jiu-Jitsu e era faixa preta, mas, nunca foi pro competitivo. Naquela época ele já estava lá com seus 47 anos e não tinha mais muita pretensão com o esporte, além de disputas dentro do estado do Rio e se manter em forma. E numa dessas ele se classificou para o PanAmericano de Jiu-Jitsu de 1999 (que seria disputado em abril de 2000). Onde? Lá nos EUA! Era a minha maior chance de conseguir meu Game Boy e Pokémon.
Meu pai chegou para mim e perguntou: “Meu filho, quer que eu tente trazer algo lá dos EUA?” Eu respondi: Claro! Um Game Boy com o jogo Pokémon Red e um boné do Ash!”
Eu tinha um pouco de noção da relação cambial Real x Dólar e sabia que não seria tarefa fácil. Mas, pedi ajuda ao meu avô (que me deu 50 reais) e as moedas que eu tinha e dei pro meu pai, não era muita coisa… Eu tentei.
Meu pai viajou em março de 2000 e ficaria um mês lá. Lá nos EUA ele tinha alguns conhecidos do mundo do Jiu-Jitsu que cresceram com ele na cidade do Rio de Janeiro e, apesar de não falar uma palavra em inglês, ele se virou.
Ele ligava para casa quase todos os dias e eu sempre naquela expectativa dele ter conseguido realizar os meus sonhos. Eu falava: “E aí, pai, conseguiu hoje?” E ele: “Ainda não meu filho, as filas aqui estão muito grandes e não tenho tido tempo para ficar nelas”. Já quase no final da estadia dele lá nos EUA, uma noite ele liga e fala: “Filho, eu consegui! Só não consegui encontrar o boné do Ash.”
Eu fiquei muito emocionado e ansioso. Agora faltava uma semana para ele retornar. O que eu iria fazer para que o tempo passasse mais rápido? Li e reli dezenas de vezes a NW Especial nº 2. Agora sim eu sabia que o meu sonho se tornaria realidade. Uma semana se passou e eu sempre perguntando para a minha mãe: “Meu pai chegou em casa?” e nada…
Numa noite, em que eu estava no treino de basquete na escola, minha mãe aparece para assistir e tava toda sorridente. Termina o treino e eu vou para casa, achando que ela estivesse com aquele sorriso por causa do bom treino que eu havia feito.
Ao chegar em casa vejo as coisas do meu pai, corri para dar um abraço nele e logo já fui perguntando: “Cadê o Game Boy e o Pokémon?” Ele me entrega uma caixa repleta de coisinhas que havia trazido dos EUA (aqueles skates e bicicletas de dedos, lembram? Ele trouxe um monte!) E no meio deles o meu Game Boy (o Color!) e Pokémon Red.
Eu abracei a caixa do Game Boy e do Pokémon e saí correndo pro meu quarto. Queria ver tudo, ler tudo. Finalmente eu tinha em mãos o meu tão sonhado Game Boy e o meu amado Pokémon…
Abri com todo o cuidado que uma criança destruidora de tudo poderia ter. Realmente aquilo significava muito para mim. Eu sou filho único e nem sempre que eu queria tinha alguém para brincar comigo. Então, aquele momento foi mágico!
Eu mergulhei com tudo no jogo. Não entendia nada de inglês, ficava errando e empacado nos lugares, o detonado ajudou muito!
Eu já era tão empolgado com tudo relacionado ao mundo de Pokémon, tinha fichário, agenda, tudo o que podia ter era relacionado com Pokémon, que uma professora de materática me apelidou de Pokédu. Eu estava totalmente tomado pela febre Pokémon…
O meu tempo livre era só para jogar… Eu passava horas e horas jogando. O meu primeiro save em Pokémon Red teve 327h e uma montanha de pilhas, todas as pilhas usadas no Game Boy, desde as que vieram juntos na caixa do Game Boy, eu guardava numa caixa de sapatos. Até que um dia elas começaram a derreter e a minha mãe achou dentro do armário e jogou tudo fora. E ainda sobou aquela briga para mim, afinal aquele líquido era tóxico. E eu ali, na ilusão, de que guardaria todas as pilhas que usasse no meu GBC.
Com o tempo jogando no meu Game Boy eu fui tomando mais cuidado e carinho com as minhas coisas. Deixei de ser aquela criança que queria abrir tudo para ver como era por dentro, para uma criança/pré-adolescente que tinha o maior cuidado, ao ponto de pedir para a minha avó costurar uma capinha para eu poder jogar o meu GBC sem deixar ele sujo, engordurado.
Meu Game Boy Color roxo e o meu Pokémon Red lá de 2000 me acompanham nessa jornada da vida até os dias atuais. Já são 24 anos juntos, muitas aventuras vividas e muitas alegrias.
Essa é a história do meu primeiro Game Boy! O início de tudo.
Ah, e meu pai foi campeão lá nos EUA! Obrigado por tudo, pai.